terça-feira, 20 de julho de 2010

Dos amigos

Naquele dia, aquele garoto acordou com seu mais normal primeiro pensamento do dia: era apenas mais um dia e um dia a menos. Ao abrir os olhos deu uma rápida olhada no seu quarto metodicamente organizado e bonito. Mas faltava alguma coisa ali, faltava algo, talvez alguém. Sim, era isso, aquele garoto estava se sentindo sozinho. Sempre tinha essa sensação melancólica ao acordar sozinho na sua cama quentinha, o que quase sempre ocorria. Estava mal acostumado, quem sabe.
Foi até a cozinha e ali preparou seu café-da-manhã. Comeu, sem a mínima vontade. A comida repetida de todos os dias anteriores e o silêncio constrangedor que tomava conta da casa vazia o deixava inquieto, ansioso, deprimido e sem fome. Então, subitamente, escutou seu celular tocar. Seu coração disparou e correu eufórico até o quarto, animado por alguém o estar ligando. Pegou o celular e viu que era uma mensagem. O que será que dizia? Perguntou-se, aflito. Mas era apenas uma mensagem de propaganda.
                Mas o que não sabia aquele ingênuo garoto era que ali, espalhadas por alguns cantos da cidade, estavam as pessoas mais importantes da sua vida: seus amigos, aquelas pessoas especiais que todos sabemos quem são e que não preciso descrever aqui. Estavam dormindo, acordando, executando suas mais simples rotinas do despertar o dia. Daqui a pouco, lembrariam dele, dariam um sorriso ao lembrarem-se dos melhores momentos das suas vidas que, coincidentemente ou não, ocorreram ao lado dele.
                O garoto de quem vos falo então se deu conta de como seus amigos eram importantes para si. Lembrou-se das antigas amizades, desgastadas com o tempo, esquecidas em seu passado remoto. Das atuais amizades, juradas eternas em abraços calorosos e inesquecíveis, que, quem sabe, durarão até um horizonte que ainda não pode ser visto, ou acabarão se desgastando e acabando juntamente com as promessas de para sempre. E, sim, ele estava ciente de que as amizades verdadeiras são eternas. Mas, meu caro, tenhamos em conta de que os acasos da vida estão sempre aqui para nos passar a perna, então, nesse caso, o eterno parece-me uma coisa um tanto que abstrata. Pensou também nas futuras amizades. Nas pessoas que estão por vir em sua vida, com quem desenvolverá um afeto quase que inexplicável, desenvolvido em situações de extremo agrado e risos e prazeres.
                Ah, amizade, pensou o garoto que agora estava tomado por uma sensação de êxtase e leveza. Levantou-se animado. Queria ligar para todas aquelas pessoas, as passadas, as presentes, as futuras. Queria dizer a elas o quanto elas eram importantes para ele, que elas o formaram como um ser humano amante e sensível, que elas deram motivos para ele continuar com essa vida desgostosa e que sem elas nada faria o menor sentido. Queria dizer que quem tem amigos como esses não precisa de mais nada na vida.
                Ora, o garoto pegou então seu celular, apagou a mensagem de propaganda e discou o número infinito que englobava todas as pessoas do mundo, todas aquelas que amava, com quem se importava, as quais queria que estivessem consigo ali, agora, aqui, para todo o sempre, e disse numa voz envolvida de lágrimas e sentimento de puro amor:
- Feliz dia do amigo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Inalação

Do meu coração só saem suspiros. Meus suspiros são lágrimas, são choro, são revolta, ódio, alegria. Meus suspiros são um sorriso. Meu suspiro é a voz do meu silêncio. Meu suspiro é o teu “eu te amo”. Quando estou com essas pessoas que tanto me fazem bem, perco o fôlego. Quando não estou com quem eu quero, meu coração entra em crise, sem ar. Meus suspiros já não são mais suficientes para todas essas emoções da vida. Sei que meu coração está doente, coitado, tem asma.
                Meu coração precisa de um inalador. Mas para isso precisaria abrir meu peito, tirar meu coração, e fornecer a ele toda a liberdade que precisa para respirar. E eu morreria. Então que fique aqui dentro, com seus suspiros, em sua morte lenta. Só tenho duas escolhas, afinal: extrair meu coração, com todas as suas emoções, juntamente com minha vida que nem sei se ainda é tão preciosa assim ou simplesmente deixá-lo aqui até onde resistirem seus suspiros a todas essas boas e más emoções que o enchem de ar.
                Talvez eu fique com a segunda opção.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Deixem-me

Deixem-me sonhar. Eu sei que já passou, mas deixem-me sonhar que ainda continua. Eu perdi, mas sonho que ganhei. Sonho que sou feliz, que você me ama, que não brigamos, que comprei, que não chorei aquela noite. Sonho, sonho sim. Isso não me deixa feliz, mas, pelo menos, isso me traz, antes das lágrimas, um breve momento de sorriso esperançoso. Eu tenho esperanças, fazer o que? Deixem-me. Sei que nada dará certo, de que tudo isso que espero de você não há mais chances de acontecer, de que você não é o que eu sonhava que fosse, eu sei, deixem-me, mas é inevitável. Está aqui, a esperança está aqui e não posso fazer nada para fazê-la cair na real.