terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Gigante Vermelha

Falem-me sobre esse órgão que bombeia dor e prazer. Dessa bola de carne e músculo cheia de emoções, desse cérebro irracional que se desenvolveu em meu peito. Falem-me quando foi que isso cresceu dentro de mim e passou a me (des)controlar. Mostrem-me de onde vêm essas explosões de ódio e amor que me destroem, gostaria de saber de onde vêm esses desejos súbitos de sorrir, matar, amar, chorar, transar, morrer, abraçar. Digam-me, por favor, se há alguma força maligna oculta controlando essa minha dor. Se há algum Deus misericordioso. Se há velas, drogas, orações, meditações ou macumba que possam me devolver meu autocontrole roubado.


            Quero alguém que me explique como foi que meu corpo se tornou um livro de poesias melancólicas e minha vida uma espécie de humor negro de mau gosto. Quero saber em que lugar do meu corpo ficam armazenadas todas essas desgraças secretadas em minha circulação e para que lugar desse universo são enviados os bons momentos de alegria.
Aliás, digam-me em que universo estou, que universo é esse, como ele funciona, onde ele está, quem eu sou, qual a razão do meu existir, qual o significado disso tudo, por que ele não me ligou.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Dias de sonho

Procurei nesses domingos inúteis, nessas tardes desgraçadas, nesses tempos perdidos, nessas memórias fajutas e nesse futuro assustado e nada encontrei. Revistei todos os rostos e línguas e corpos e corações e almas e pêlos e sorrisos e lágrimas, mas nada daquilo me ajudou. Sim, revistei minha pele, meu cérebro, meu sangue, meu pênis. Vasculhei minhas gavetas, armários, estantes, meu balcão, minha geladeira, vasculhei copos, copos, copos e garrafas vazias sem sucesso. Esquadrinhei o céu, o chão, o inferno, a minha vida – essa e a outra –, a dos outros e nada ali me serviu. Fiz listas, organizei, desorganizei, cataloguei, contei, revirei tudo. Apelei para oração, mandinga, macumba, grito, desespero, choro, sangue, bebida, sonhos, sexo, solidão, ódio e nada. Pensei em desistir.
Desisti.


Então veio, como sempre (subitamente), aquela necessidade maligna de se voltar às buscas, de voltar a procurar pelos mesmos cantos que eu já sabia que jamais ia encontrar o que queria, de procurar novos cantos para se procurar. Cantos estes cada vez mais difíceis e irreais. Ilusórios. Imaginários. Chega-se àquela hora em que nem se sabe mais o motivo dessa insistência em procurar algo que já não se tem esperanças de ser encontrado – como se toda essa busca, agora, não passasse de um reflexo, de um instinto, de uma força de hábito.
Até que descobri que eu nem ao menos sabia o que estava procurando.