sábado, 26 de março de 2011

Na praia

Eis que vem aquela onda que traz todo o lixo para esta praia que já não era tão limpa quanto outrora. Suja as areias com toda sua imundice de memórias que não se entregam ao esquecimento. A praia fica assim, suja como minha memória, com latas e recordações que deveriam ter sido recicladas. Por aqui não há catadores de lixo ou agentes de limpeza, apenas poluentes. Andar por essas bandas já não é mais permitido, e mesmo que fosse, quem se arriscaria a pisar em alguma vergonha do passado? Quem se arriscaria a repetir os mesmos passos dos quais tanto se arrepende?


                Mas há aquelas ondas benignas. Aquelas que não trazem lixo. Aquela que traz a recordação do teu toque, do teu abraço. A onda da saudade. Que tem seu lado bom, aquela sensação boa de bons tempos; e que também tem seu lado ruim: vai embora muito rápida. É quando você percebe que era só uma onda. Não havia um amor ali, apenas água. E espuma.
                E logo depois vem o lixo.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Desilusão

Fiquei assim


















vazio.

domingo, 6 de março de 2011

Defeito de fábrica

Sabia que era um produto imperfeito. Mas não me disseram que quebraria assim fácil. Não me disseram que deixaria de funcionar assim tão rapidamente. Antes eu soubesse. Disseram que eu ia quebrá-lo primeiro. Mas foi o contrário, como sempre. Ele se quebrou sozinho, ele me quebrou, o tal maldito produto com defeito.
Confesso que não li as instruções. Confesso que não sabia tudo o que ele tinha pra oferecer, ou o que ele não tinha pra oferecer. Talvez eu tenha aproveitado tudo durante esse breve momento, ou talvez não, talvez eu precisasse de mais um tempo com o meu bem.


Mas não importa, está quebrado. Quebrou e não tenho cola. Uma hora ou outra ele ia quebrar, é o que dizem. Mas valeu tudo o que paguei por essas curtas horas de prazer? Talvez a falta que eu sinto, a saudade e a angústia sejam apenas mais uma forma de responder que sim. Ou talvez sejam simplesmente uma forma de me ensinar a não me apegar a algo que se mostrou propício a defeitos logo assim que tirado da caixa.
Chorei pela rachadura que não vou colar, era um produto único. Mas não vou mais desperdiçar cola, a essa altura ela já está acabando. Sem contar que essas coisas coladas nunca tardam a se quebrarem novamente. Deixo essa tarefa, a de reparos, para alguém que ainda tenha cola de sobra. Assim talvez meu produto quebrado tenha mais algum tempo de vida útil.
Boa sorte ao reparador.