Eis que vem aquela onda que traz todo o lixo para esta praia que já não era tão limpa quanto outrora. Suja as areias com toda sua imundice de memórias que não se entregam ao esquecimento. A praia fica assim, suja como minha memória, com latas e recordações que deveriam ter sido recicladas. Por aqui não há catadores de lixo ou agentes de limpeza, apenas poluentes. Andar por essas bandas já não é mais permitido, e mesmo que fosse, quem se arriscaria a pisar em alguma vergonha do passado? Quem se arriscaria a repetir os mesmos passos dos quais tanto se arrepende?
Mas há aquelas ondas benignas. Aquelas que não trazem lixo. Aquela que traz a recordação do teu toque, do teu abraço. A onda da saudade. Que tem seu lado bom, aquela sensação boa de bons tempos; e que também tem seu lado ruim: vai embora muito rápida. É quando você percebe que era só uma onda. Não havia um amor ali, apenas água. E espuma.
E logo depois vem o lixo.