quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Gozei flores

Eram vermelhas, rosas com espinhos. Com suas pétalas enrugadas e vermelhas e enroladas como um esfíncter anal e espinhos rígidos e duros e infinitos. Ficaram ali no chão a apodrecer desaparecendo no desgosto da putrefação e do descaso da natureza, que as deixou entregue aos fungos e bactérias e formigas. Olhei pra baixo e vi aquele gozo que não era flores, mas sim veneno e espinhos de desengano, sujando o chão com sua gosma fétida e incensando o quarto com seu odor desagradável.
Limpei com papel higiênico como se fosse uma vagina suja.


          Mas não consegui jogar fora, não achei o lixeiro. Deixei ali no cantinho do meu quarto junto com todos os outros lixos que não foram descartados, todos os papéis não aproveitados, todos os gozos desperdiçados. Todas as lágrimas, todas as maquiagens borradas, os catarros escorridos, as dores, os arrependimentos, os desejos e pulsos cerrados.
            Não era um gozo. Não eram flores. Era uma decepção.