quarta-feira, 13 de abril de 2011

Chuva

                Encolhi-me na chuva. Encolhi-me nos trovões. Não sei se eram trovões de nuvens se chocando ou de minha alma gritando. Nem se aquele barulho era de chuva caindo lá fora, atrás da janela empoeirada que me fecha nesse quarto frio e vazio, ou se era apenas minha alma em prantos. Não há música de amor. Só o silêncio do choro agonizante e os urros dos céus, em forma de trovões que fazem o corpo tremer – ainda mais.


               Passei essa noite em claro, no escuro. Não importa se os olhos estavam fechados ou abertos, só se via trevas. E hoje do mesmo jeito. Nesse novo dia que traz marcas da noite passada. As lágrimas indigestas que escorrem pela janela; o céu negro em escândalo e luto pelo amor; aquela sensação cinzenta. Nessa chuva é assim: não há horizonte. O futuro, a esperança, as chances de que algum dia se veja o brilho do Sol, está tudo ofuscado por uma nuvem densa que parece não planejar ir embora. Aquele hóspede incômodo.
              Então eu percebo que aquele barulho não era de água caindo no chão. Eram aplausos. Aplausos das árvores em reconhecimento de minha vitória.
              Eu ganhei.
              Consegui ser mais deprimente que essa maldita chuva de outono.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os pêlos

                Não sei se isso é importante. Não sei se foi mero acaso, acidente ou um ato deliberado. Não sei se foi premeditado ou consensual – ou só sensual. Não sei se minhas dúvidas são na verdade desejos, esperanças.
                Mas eu tenho certeza que aquela conversa não importou. Todas aquelas palavras e olhares trocados, os sorrisos, nada disso foi importante. Tudo isso se ofusca diante aquele instante. Aqueles milésimos de segundos em que nossos braços ficaram tão próximos que... As pontas de nossos pêlos se tocaram. E aquele silêncio que durou todos os milésimos de segundos do nosso pequeno contato, segundos que pareciam horas, torturado por meus pensamentos – o que será que tu pensavas? Será que estava sentindo também? –. Aquele arrepio, aquela sensação de proximidade foi quase um beijo. Poderia ser um beijo. Poderia ter sido mais. Os pêlos se aproximando, mais e mais, roçando, esmagando um ao outro até chegar ao toque da epiderme. O ápice, o encontro máximo de dois corpos: o toque.


                Aquele encontro mínimo, meus pêlos roçando nos seus, aquele breve instante quase que insignificante capaz de despertar todos os sentimentos e desejos reprimidos, aquela vontade de percorrer todo o seu braço – não só aquele pequeno ponto de contato que tivemos – e explorar aquelas áreas ainda não reveladas. A vontade de, na próxima vez, encostar a minha perna na tua, como que por acidente, para você saber que estou ali, te desejando, desejando que tu me desejes.
                A vontade de que, na próxima vez, não seja só os pêlos.