domingo, 5 de fevereiro de 2012

Dias de sonho

Procurei nesses domingos inúteis, nessas tardes desgraçadas, nesses tempos perdidos, nessas memórias fajutas e nesse futuro assustado e nada encontrei. Revistei todos os rostos e línguas e corpos e corações e almas e pêlos e sorrisos e lágrimas, mas nada daquilo me ajudou. Sim, revistei minha pele, meu cérebro, meu sangue, meu pênis. Vasculhei minhas gavetas, armários, estantes, meu balcão, minha geladeira, vasculhei copos, copos, copos e garrafas vazias sem sucesso. Esquadrinhei o céu, o chão, o inferno, a minha vida – essa e a outra –, a dos outros e nada ali me serviu. Fiz listas, organizei, desorganizei, cataloguei, contei, revirei tudo. Apelei para oração, mandinga, macumba, grito, desespero, choro, sangue, bebida, sonhos, sexo, solidão, ódio e nada. Pensei em desistir.
Desisti.


Então veio, como sempre (subitamente), aquela necessidade maligna de se voltar às buscas, de voltar a procurar pelos mesmos cantos que eu já sabia que jamais ia encontrar o que queria, de procurar novos cantos para se procurar. Cantos estes cada vez mais difíceis e irreais. Ilusórios. Imaginários. Chega-se àquela hora em que nem se sabe mais o motivo dessa insistência em procurar algo que já não se tem esperanças de ser encontrado – como se toda essa busca, agora, não passasse de um reflexo, de um instinto, de uma força de hábito.
Até que descobri que eu nem ao menos sabia o que estava procurando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim.