quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os pêlos

                Não sei se isso é importante. Não sei se foi mero acaso, acidente ou um ato deliberado. Não sei se foi premeditado ou consensual – ou só sensual. Não sei se minhas dúvidas são na verdade desejos, esperanças.
                Mas eu tenho certeza que aquela conversa não importou. Todas aquelas palavras e olhares trocados, os sorrisos, nada disso foi importante. Tudo isso se ofusca diante aquele instante. Aqueles milésimos de segundos em que nossos braços ficaram tão próximos que... As pontas de nossos pêlos se tocaram. E aquele silêncio que durou todos os milésimos de segundos do nosso pequeno contato, segundos que pareciam horas, torturado por meus pensamentos – o que será que tu pensavas? Será que estava sentindo também? –. Aquele arrepio, aquela sensação de proximidade foi quase um beijo. Poderia ser um beijo. Poderia ter sido mais. Os pêlos se aproximando, mais e mais, roçando, esmagando um ao outro até chegar ao toque da epiderme. O ápice, o encontro máximo de dois corpos: o toque.


                Aquele encontro mínimo, meus pêlos roçando nos seus, aquele breve instante quase que insignificante capaz de despertar todos os sentimentos e desejos reprimidos, aquela vontade de percorrer todo o seu braço – não só aquele pequeno ponto de contato que tivemos – e explorar aquelas áreas ainda não reveladas. A vontade de, na próxima vez, encostar a minha perna na tua, como que por acidente, para você saber que estou ali, te desejando, desejando que tu me desejes.
                A vontade de que, na próxima vez, não seja só os pêlos.

5 comentários:

Marinho disse...

um centésimo de segundo de sensação foi o suficiente pra produzir um complexo texto =)

Unknown disse...

uau lucas!

Cibele disse...

Faça uma depilação, não sinta mais os pêlos, vá direto ao toque.
AMEI o texto, um dos melhores.

Anônimo disse...

luke e seu platonismo lindo

Lara Fernandes disse...

Quanta delicadeza, singelo e belo!